Seminário Internacional: “Os desafios da esquerda latino-americana e caribenha”.

Publicado 12/02/2007

O deputado Luis Cesar Bueno, participou em Salvador do debate internacional sobre os rumos dos partidos e governos de esquerda, notadamente no Brasil, América Latina e Caribe. Veja a seguir uma reportagem completa sobre o evento: Atender às expectativas das massas por mudanças concretas, aprofundar o movimento de integração regional e definir formas de atuação com base nas realidades locais. Estas são as tarefas fundamentais de governos e partidos progressistas, na avaliação dos palestrantes da primeira mesa sobre os desafios da esquerda latino-americana e caribenha, seminário que abriu nesta sexta-feira (9) as comemorações pelos 27 anos do PT, em Salvador (BA). O seminário, que acontece no hotel Bahia Othon Palace, está sendo acompanhado por mais de 1.100 pessoas, com representantes de 18 países da região e de outros continentes. Na abertura do evento, o professor Marco Aurélio Garcia, 1º vice-presidente do PT e assessor especial da Presidência da República, fez um breve balanço sobre a formação e as lutas da esquerda continente, para concluir que, hoje, a região vive um momento único. “Nunca a esquerda havia tido na América Latina posições de poder como hoje, posições de governo. É uma força real em muitos países e influencia grandes decisões”, afirmou Marco Aurélio, ressaltando que isso ocorre até mesmo nos países nos quais os partidos progressistas continuam na oposição. “E essa presença é resultado não de golpes nem de aventuras, mas de intensas mobilizações sociais que se traduziram em eleições vitoriosas”, destacou. Marco Aurélio lembrou que a “aventura neoliberal” destruiu os sistema produtivo dos países da região, gerando desemprego e desigualdade e agravando conflitos e contradições sociais. Por isso, na avaliação do professor, um dos maiores desafios dos governos de esquerda é promover o crescimento em ritmo acelerado, com distribuição de renda e “fontes sadias” de financiamento. Ele lembrou também da importância do controle sobre a inflação e do equilíbrio financeiro, uma bandeira de origem conservadora que, na sua avaliação, precisa ser apropriada pela esquerda. Mas ressalvou que isso deve ser feito com cuidado, de maneira que o equilíbrio macro-econômico não seja usado como freio do desenvolvimento. Para Marco Aurélio, todas estas questões devem ser tratadas no âmbito da democracia, “representativa ou participativa”, e tendo como elemento unificador a integração regional. “A integração sul-americana se transformou num tema fundamental. Se temos conflitos, é porque a vida é feita de conflitos”, disse ele, criticando os “picaretólogos” que, em comentários na imprensa, associam eventuais discordâncias a supostos fracassos do eforço integracionista. “No tempo da Operação Condor não havia conflitos”, ironizou. A citação foi uma referência ao período das ditaduras militares na América do Sul, quando os os países atuavam conjuntamente na repressão aos movimentos que lutavam pela democracia. O dirigente petista encerrou afirmando que “ a efetiva superação do neoliberalismo” passa pela construção de uma alternativa que leve ao desenvolvimento democrático, econômico e social. Magnitude Depois de Marco Aurélio, falaram Nico Schwarz, da Frente Ampla do Uruguai; Nils Castro, do PRD (Partido Revolucionário Democrtáco) do Panamá; e Javier González Garza, deputado e coordenador parlamentar do PRD na Câmara dos Deputados do México. Para Nico Schwarz, do Uruguai, muita gente na própria esquerda ainda não compreendeu a magnitude das mudanças em curso na região. “A atual situação da América Latina configura o nascimento de um novo período, de um novo momento histórico”, avaliou, lembrando, como já fizera Marco Aurélio, a frase ponunciada pelo presidente equatoriano Rafael Corrêa no dia de sua posse: “Não vivemos uma época de mudanças. Vivemos uma mudança de época”. Como exemplos, ele também citou as recentes vitórias de Lula, no Brasil, e Hugo Chávez, na Venezuela, que derrotaram “a violência midiática” e o poder do capital financeiro especulativo. Ele enfatizou o fato de novos setores sociais, novas classes terem sido alçadas ao primeiro plano da História, afirmando e que esse movimento pode ser encarado como a “ante-sala” de mudanças mais profundas. “Os países vêm acumulando uma série de conquistas e avanços. E o maior desafio, no plano continental, é a integração regional, a coordenação entre os partidos de esquerda e a troca de experiências”. Contraste Javier Gonzáles, do PRD do México, falou sobre a tensa situação de seu país, onde inúmeras fraudes impediram que Lopes Obrador, o candidato da esquerda, se elegesse presidente no ano passado. “A situação no México contrasta com a grande festa da esquerda no restante da América Latina”, lamentou. Apesar dos problemas em seu país, González vê com grande entusiasmo o crescimento da esquerda em outras nações. “Há cerca de 20 anos, o cone sul estava em desgraça, com mortes, tristezas. Hoje vemos uma grande esperança”, citando os “inegáveis avanços das posições de esquerda” no Brasil, na Venezuela e na Bolívia. Para ele porém, a esquerda precisa ficar atenta e aprofundar as discussões sobre seus próximos paradigmas. “O fim do socialismo real implica uma nova construção ideológica do mundo, porque a direita não está morta”, sentenciou. Travessuras Nils Castro, do PRD do Panamá, foi na mesma linha. Para ele, as “travessuras e maldades” do neoliberalismo permanecem vivas e atuantes na sociedade, mesmo nos países onde a esquerda chegou ao poder. “Os derrotados não estão tranqüilos. Pelo contrario, estão muitos nervosos. É um medo real, que se vê pelo comportamento da imprensa”, afirmou. NA avaliação de Castro, os próximos anos serão de intensa luta ideológica. “O que é muito bom, porque nós também temos de trabalhar na construção de nossas idéias. E a luta é muito boa para isso”, disse. Na opinião do panamenho, a esquerda hoje tem muito mais motivos para brigar do que nos anos 60, porque, de lá pára cá, as desigualdades só aumentram. Mas ressaltou o fato de que isso já pode ser feito dentro da institucionalidade, já que a democracia e chegada ao poder permitem isso. “A idéia não é fazer mais heróis, ter mais sacrifícios. Entre pátria ou morte, prefiro pátria. Entre morrer ou vencer, prefiro vencer”, concluiu.

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