População de rua em Goiânia
Publicado 17/01/2000
Ao propormos o Projeto de Lei que dispõe sobra a política de acolhida na cidade de Goiânia através de albergues e serviços para a população de rua desta cidade, pretendemos incitar a criação de um local apropriado para facilitar o enfrentamento da realidade pelas pessoas que experimentam a vivência desumanizante das ruas das cidades, na busca pela sobrevivência. Falamos de amparo com perspectivas de um projeto social maior que termine por reproduzir, através de uma vivência comum – não isolada, aspectos positivos para o desenvolvimento humano e social desta população de rua de Goiânia da aviltada e destituída de direitos e valore, não enquanto provenientes de uma situação natura, mas de uma construção humana. Analisamos a consciência que o home tem de si mesmo, e percebemos que ele é em relação à sua experiência no mundo, ao seu significado no Ambiente que determina o seu modo de ser no mundo. Daí a idéia de que quando fazemos caridade, quase sempre pretendemos minorar não o sofrimento do outro, mas o nosso próprio, a nossa impotência, massageado nosso ego, crendo – nas pessoas de bem, sem a "compreensão de ser, em ser acolhimento do outro".
Recentemente, após as festas natalinas e às vésperas, poderemos ver, com certeza, inúmeras destas pessoas, que quase nunca têm casa, comida, roupas, saúde, higiene, conforto espiritual. São pessoas, que não por opção o, mas por condição de penúria, não podem deixar de pedir ou, de perambular pelas ruas em busca de sobrevivência. Em meio à tantas outras que darão auxílio, outras que criticarão, outras que ignorarão, e outra que em menor quantidade, questionarão. Dialogicamente, queremos provocar a reflexão sobra a marginalidade, não enquanto traço da personalidade, mas enquanto condição objetiva de caráter histórico. No Brasil, não se trata a medincância como na Índia, onde este é um ato de desapego, humildade e resignação.
Tampouco, no Brasil ocorre por falta de produtos ou recursos humanos. A estagnação social que vemos, com a cultura e o poder mal distribuídos, nos revela uma sociedade individualista, que reproduz as relações de dominação dos sistema capitalista, em que no máximo persevera o "é dando que se recebe" em despeito do cultivo de valores humanisticamente éticos que conduzem à uma existência mais plena, com a compreensão do outro, das coisas e do mundo, e do ser no mundo. Trabalhemos sim, e muito, enquanto podemos.
E sem incitar o ócio, reconheçamos a má sorte do outro, sabendo o nosso papel, auxiliando se pudermos, se nosso coração mandar, sem que a mão esquerda saiba o que fez a direita. Não se trata aqui de institucionalizarmos a mendicância, simplesmente. Propomos o enfrentamento prático de um problema que atinge cada vez mais pessoas nas cidades. Um problema que reflete o descaso do governo diante das misérias humanas. E que indigna, maltratada, e fere a nossa condição humana de ser, de ser humano, de ser "um mano". Luis Cesar Bueno é professor, historiador, vereador e líder da bancada do PT de Goiânia.