O Centro Pede Revitalização

Publicado 18/05/2000

 Nas últimas décadas, uma das reivindicações dos moradores tem sido o aproveitamento dos espaços públicos para convivência social. Alguns avanços já aconteceram, com um viés inovador, que está indo além da intervenção meramente do poder público local. O fato novo são as parcerias desenvolvidas entre governo local e os setores organizados da sociedade. O caminho está correto, principalmente se analisarmos as intervenções públicas que acontecem sem a aprovação popular, simplesmente para contemplar interesses econômicos ou políticos. Em parceria com a sociedade, as possibilidades de erro são menores. Podemos sinalizar exemplos positivos como as revitalizações em curso da região central do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, fortaleza, Curitiba, Bolonha, Paris.

Como vereador de Goiânia e morador, abrimos, na Câmara Municipal de Goiânia um debate em torno da revitalização do Centro de Goiânia. Partimos de um ato concreto, que foi a apresentação de um projeto de lei para tal fim, no ano de 1996. O projeto não tinha a pretensão de fechar questão em torno do assunto, mas estender e suscitar o debate com a sociedade. Foram realizadas sessões especiais, com a participação de técnicos com experiências e conhecimentos no assunto, ONGs, órgãos públicos, moradores, empresários. O projeto foi aprovado pela Câmara por maioria, mas foi vetado pelo prefeito. O prefeito vetou o projeto, mas não teve poder para vetar as discussões que sucederam e que estão sendo importantes para o futuro da nossa Capital. A atual gestão municipal está findando e, por parte do governo municipal, houve omissão e inércia quanto à revitalização do Centro de Goiânia.

Omissão nas intervenções de reestruturação da Avenida Anhanguera, que trouxe grandes prejuízos para a cidade, principalmente para o Centro. Inércia na falta de ação para corrigir os vários problemas do Centro, como: ocupações desordenadas dos logradouros públicos, realinhamento do trânsito, iluminação, poluição visual entre outros problemas. A inércia e a omissão do poder público local fizeram surgir a reação da sociedade. Hoje, temos a Associação Centro Vivo de Goiânia, que reúne moradores, empresários e usuários do Centro, com ações e objetivos semelhantes à Associação Viva o Centro de São Paulo, que tem reconhecimento nacional e internacional. Temos a associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás que está, concretamente, contribuindo nas questões inerentes à revitalização do Centro, entre outros importantes segmentos. O envolvimento de setores organizados dará vida à discussão e formulação de políticas públicas para revitalizar o Centro de Goiânia.

Com a participação da sociedade será possível mudar o conceito de revitalização expresso em algumas ações tidas como "revitalizadoras" feitas no Centro de Goiânia nos últimos anos. Podemos citar alguns exemplos: a reforma do Coreto da Praça Cívica, que, entre vias de grande fluxo de veículos, não dá condições de uso público para apresentações culturais e artísticas. Já tempos o Coreto servia para apresentação de bandas, camaratas, poesias, bate-papos. As últimas reformas feitas na Praça Cívica, cartão postal da Cidade, transformou-a em um grande estacionamento. O projeto de iluminação realizado na Praça foi positivo mas não consegue atrair as pessoas por estar dissociado da segurança pública, inexistente no local. O Cine Cultura, fundado há vários anos, não é conhecido pela maioria da população, mesmo sendo um dos poucos espaços para mostra do Cinema Arte. O mesmo acontece com o Museu ali existente. O Monumento às Três Raças, símbolo da cidade, se perde no meio de tantas deformações. Resta, como referência para a população, os prédios administrativos e a sede dos governos estadual e municipal, que é muito pouco para a dimensão que a Praça Cívica tem e pode ter para Goiânia. O resto da riqueza do patrimônio histórico, cultural, urbanístico e arquitetônico existentes no Centro continua, também no abandono. Outro problema grave é o da segurança.

Nós, moradores do Centro, convivemos no período noturno com os mesmos problemas dos bairros mais afastados: abandono, falta de iluminação, bueiros entupidos, obstáculos e lixos sobre as calçadas. Por fim, em caráter de urgência cabe ao poder público dar uma solução para o problema dos camelôs que ocupam os espaços públicos. Estes não devem ser tratados como caso de polícia, mas com o objetivo de ordenar as atividade, de preferência em locais construídos para este fim. Já apresentei um projeto para construção de um shopping popular, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, mas não houve interesse do atual prefeito em viabilizar a parceria com os camelôs, na condição de avalista junto ao Fundo. É um problema de ordem socioeconômico com dimensão nacional, mas pode ser resolvido com ações do governo municipal. Basta querer. Luis Cesar Bueno

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