A crise econômica e a disputa ideológica

Publicado 06/04/2009

Os ideais neoliberais foram abalados com a recente crise financeira internacional. Durante toda década de noventa vivenciamos um discurso fulminante com efeitos nocivos e interferência real na política mundial. As expressões como: “O Estado é incompetente para gerenciar a infra-estrutura de uma nação e por isso temos que transferir recursos para a iniciativa privada e conduzir as políticas públicas”, “ Vamos enxugar e privatizar o Estado para garantir mais eficiência” , foram pérolas usadas pelo consenso de ideólogos de Washington. Em duas décadas percebemos um efeito totalmente adverso.

 As grandes empresas multinacionais, verdadeiros oligopólios quebraram e levaram os trabalhadores e investidores a falência. Os mesmos empresários e banqueiros que diziam que o Estado era incompetente, e que eram independentes, recorrem hoje ao Estado para sanar as dívidas. Uma crise com precedente apenas na recessão mundial de 1929. E mais uma vez o “santo” Estado é chamado a colocar recursos públicos, trilhões e trilhões de dólares do contribuinte nas contas bancárias deficitárias em função de grandes grupos econômicos para amenizar os efeitos da crise no mundo do trabalho. O mundo globalizado não alastra apenas os aspectos positivos. Após o colapso e a insolvência do setor imobiliário norte-americano, ficou evidente a responsabilidade das políticas de desregulamentação ampla e irrestrita dos mercados entoados pela direita neoliberal nos últimos trinta anos e sua desastrosa influência nas economias dependentes. Ainda bem que o Brasil fez um superávit primário expressivo, cresceu por anos seguidos o Produto Interno Bruto, potencializou uma reserva monetária de 250 U$ bilhões, pagou a dívida externa e rompeu com o FMI. Mudou de devedor para credor. Caso contrário, já estaríamos na UTI do sistema financeiro.

 Foi o tempo em que uma gripe nos Estados Unidos produzia uma grave pneunomonia no Brasil. Apesar de fortalecidos, não estamos imunes. É necessária uma rápida redução das taxas de juros e incentivo a produção. Lamentavelmente a crise somente em pronunciá-la já deixa o cidadão e o investidor na defensiva, temeroso em consumir e investir. Hoje, confrontados com a perspectiva de um desastre econômico mundial capaz de produzir mais de 20 milhões de desempregados, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os Estados são chamados para socorrer os bancos e buscar a solução para a crise. Para nós do PT, sempre nos pareceu evidente o caminho do colapso econômico e social a que levaria o neoliberalismo.

 Por isso, a crise nos coloca no limiar de uma mudança de época. O desastre econômico apontou a necessidade de alternativas, de regulação e de controle social dos mercados. A partir disso, à esquerda e o PT têm a oportunidade de recolocar a dimensão humana na política apontando a construção de um projeto alternativo, pós-neoliberal, de combate às desigualdades e aos preconceitos. As alternativas estão em pleno debate e construção na sociedade. É preciso o PT apontar saídas e soluções impactantes para a crise e oferecer o devido apoio aos movimentos anti-hegemônicos protagonizados pelo nosso governo e pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram as rupturas com o projeto liberalizante dos tucanos, feitas pelo nosso governo, que ofereceram as condições para que o Brasil supere com menores dificuldades o desastre econômico mundial. Foram as políticas sociais, o aumento do salário mínimo e o fortalecimento do mercado interno, o retorno dos investimentos públicos e a presença do Estado que robusteceram a economia e a soberania brasileira. O presidente Lula é hoje um dos chefes de Estado com maior envergadura política no mundo contemporâneo.

 Levou o Brasil para o G-20, organizou a articulação política dos países emergentes e tem dado contribuição expressiva no sentido de amenizar os efeitos da crise financeira produzida pelos grandes banqueiros nas nações mais pobres. Seu trabalho foi reconhecido no encontro das maiores potencias do mundo ocorrido recentemente em Londres. O Projeto político do Partido dos Trabalhadores esta consolidado. É preciso um amplo debate político nacional pela sua continuidade. O momento é este. Temos que utilizar os avanços obtidos no Brasil e a nossa capacidade de enfrentamento da crise financeira mundial para avançar nossos objetivos. Neste momento de disputa marcadamente ideológica, o PT, para vencer em 2010, deve ter a capacidade de produzir uma nova agenda em conjunto com a sociedade civil organizada voltada para a construção de uma economia e de uma sociedade mais justa e de valorização do ser humano. LUIS CESAR BUENO – Deputado estadual, professor, especialista em política, gestão e finanças pública. Membro do Diretório Nacional e vice-presidente do Diretório Regional do PT. Artigo divulgado no jornal Diário da Manhã – Edição do dia 05/04/2009 na Editoria de Política e Justiça

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